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Desafios Covid-19 por Tiago Fernandes

Artigo de Opinião | 22 de Março 2020

Vivemos tempos difíceis, tempos em que, enquanto comunidade, somos desafiados a dar o melhor de nós, por todos e para todos.

Como em tudo na nossa vida, existem conflitos mais ou menos previsíveis, com ou sem bandeira, de impacto mais concentrado ou difuso.

2020 arranca com um desafio global que tem impacto na vida de todos nós. Um desafio imprevisível, um desafio sem bandeira, um vírus que nos afeta a todos e sobre o qual temos pouco controlo, cujo impacto é simultaneamente concentrado e difuso por todo o mundo.

Tendo lido bastante acerca do tema, penso ser necessário abordá-lo de um prisma social e jurídico. O motivo para tal é simples: acima de tudo este é um problema comunitário.

O contributo que quero deixar escrito é de que são os momentos de provação que definem um indivíduo, uma comunidade e um Estado. A forma como reagimos aos desafios só pode ser uma, em minha opinião, são oportunidades.

O caso do COVID-19 é uma oportunidade, não de negócio, mas de sermos a comunidade que todos nós, no reduto da nossa consciência, queremos que exista.

E é precisamente por acreditar nesta comunidade fraterna e justa que, tal como o fiz em crónicas anteriores, quero deixar uma sugestão de palavras-chave para este problema bem como, um pequeno contributo sobre a forma como o queremos enfrentar.

Uma palavra-chave para o momento que atravessamos é Confiança. Nos momentos de crise esta não pode faltar. Em quem? Desde logo, no Estado.

Pode parecer difícil, mas devemos suspender temporariamente as questões partidárias e centrarmo-nos na questão essencial, a proteção da nossa comunidade.

Tem-se abordado a possibilidade de se decretar Estado de Emergência, instrumento que está previsto no texto mais importante da nossa Democracia, a Constituição da República Portuguesa.

A declaração de um Estado de Emergência é algo inédito, tão inédito que nunca se recorreu a ele tendo por base a atual Constituição da República (em vigor desde 1976).

Mas, vejo na sua eventual declaração algo que inspira Confiança, é que se trata da possibilidade de declarar democraticamente um Estado de Emergência, ou seja, trata-se da nossa Democracia verdadeiramente livre a dar um sinal de que está viva e que nos protege.

Considero este gesto de particular importância pois a democracia, tantas vezes atacada, vem demonstrar algo que todos nós temos que ter nos próximos tempos, resiliência.

O tempo é de confiar, mas de confiar sendo ativos e pró-ativos, sendo cidadãos disponíveis para ajudar aquele que precisa da nossa ajuda, de sermos uma verdadeira comum unidade de princípios e valores democráticos. É tempo de ouvir o Estado e os seus apelos, seja a nível local ou nacional e, por vezes, ir além daquilo que nos pedem.

Não nos podemos esquecer que mesmo aqueles que nos governam podem ter dúvidas, mas não podemos é duvidar que estão lá para nos proteger. Este é o tempo da confiança atenta e cívica, mas que monitoriza. O tempo do escrutínio seguir-se-á no seu devido momento.

Confiarmos no Estado, e nas suas instituições, é demonstrarmos uma crença inabalável na democracia representativa, é demonstrarmos uma fé inabalável em sermos portugueses, mas é também um exemplo que damos ao mundo de que desde 1143 estamos cá a lutar por uma comunidade mais justa, mais séria e mais forte.

Finalizo com um pensamento “os justos caminham, os sábios correm e os apaixonados voam” pois acredito que esta comunidade em que vivo, este mundo em que habito, é capaz de voar, mas é também capaz de se recolher para preparar novos voos sempre, com o maior dos privilégios do mundo, voar num país livre, seguro e democrático.


Artigo de Tiago Fernandes, in Voz de Cambra, 17 de março de 2020

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